Então uma rosa será....

eu sempre imaginei que as pessoas vão traçando seu caminho. pensa em alguém carregando um galho de árvore na areia. é por aí. desde muito tempo, que eu nem sei mais dizer quando, o meu galho não encosta no chão. e mesmo se encostasse, é tão pouco,  que não faz desenho e sim, um risco claro e sem graça. claro que minhas pegadas ainda estão lá, mas o desenho do galho, logo o desenho que eu mais queria, não.  eu tenho a areia, eu tenho o maldito galho, por que eu prefiro segurar todo o peso dele nas minhas costas? quando olho pra trás e minhas marcas não estão lá, penso: vim de que direção? e me perco novamente.

apesar de nos dias de hoje isso não ser um "mérito" só meu, já que a maior parte das pessoas, estão perdidas, carregando galhos até maiores que o meu e simplesmente não sabem que podem ser "pintores" de areia. ou outros que possuem uma vareta e mesmo assim fazem quadros maravilhosos. já vi até gente que não tem galho, acredita? usam os dedos. esses eu nem comento.

o que eu quero dizer é que... bom, quando eu estava um tanto quanto perdida, embolada  nos meus rabiscos tortos e sem profundidade, avistei um desenho diferente. daqueles que só os galhos mais bonitos fazem; era abstrato, que eu nem entendi direito, mas achei tão incrível que eu precisava ver de perto. fui tão fascinada e focada em descobrir o que era, que minhas mãos esqueceram o peso do meu galho e ele se arrastou em alguns momentos. procurei de um lado e de outro, e do outro lado não vi galho, apenas um menino, "pintado" de areia dos pés a cabeça, também olhando aquelas linhas profundas. pensei: "mais um admirador do artista que fez isso? ou seria ele o próprio pintor?"

o desenho estava próximo demais do mar, o que me deixou preocupada, já que o mar é a unica coisa que apaga desenhos, e eu, desde que cheguei perto, não queria mais deixar de olhar. me parecia uma flor, mas eu não tinha certeza. pra minha surpresa o mar veio, veio de novo, e de novo, e toda vez que recuava, trazia de volta as curvas na areia, deixando o tal quadro intacto. como pode? o menino do outro lado, percebendo minha interrogação, gritou: "DEPENDE DO QUE VOCÊ SENTE QUANDO ESCREVE". gritei de volta "O QUE ESTÁ ESCRITO?". ele andou na minha direção, e quando estava perto o suficiente pra que eu visse dentro dos olhos dele todo o "azul" do mar, disse: "o que você lê?". eu não sabia ler, não mesmo, mas dentro da minha "burrice" respondi: "eu leio uma rosa".

- então uma rosa será.

eu não sei dizer quanto tempo ficamos debatendo sobre desenhos, galhos e mares. eu sei que cada minuto parecia uma hora, ou uma vida, e ao mesmo tempo a vida parecia um segundo. eu não queria sair dali. o certo parecia incerto, e o certo mesmo era que pela primeira vez, quando dei por mim, caminhando ao lado dele, meu galho desenhava. ou escrevia, ou desenhava. foi naquele momento, no infinito de uns minutos, ou na correria de algumas horas que descobri que a verdadeira arte a gente faz sem perceber. que não era o fato de estar focada em produzir/ser algo que iria me ajudar, e sim, aquela felicidade pura e infantil que guiava meu galho torto e sem folhas pelo chão.

e que venha o mar pra cima, que eu carrego a vontade dos meus desenhos na mão.