Marina - Baú

Baú - Textos escritor há muito tempo.

deitada sobre a almofada vermelha e o tapete bege combinando, olhava para o teto pensando longe. segurava uma xícara de chá, quase frio, que molhava um pouco o chão de madeira. perdera a noção de quanto tempo estava longe. fechou os olhos devagar como se estivesse com sono, mas não demorou muito a abrir junto com a respiração longa e pesada. pensava no passado. o computador tocava los hermanos sem parar, uma atras da outra, sem enjoar. mas não fazia tanta diferença naquela hora. o telefone tocou, foi o que a dispertou por alguns segundos. levantou devagar, pegou o chá no chão e se encaminhou para a cozinha, o telefone continou tocando. voltou a sala, sentou no sofá e acariciou o gato preto de olhos claros que estava esparramado na sua cama gigante, como ele devia pensar. seus olhos mostrava a quantidade de coisas e pensamentos que deviam estar passeando pela sua cabeça, parecia estar em transe. o telefone parou. mais uma vez ela pareceu acordar um pouco mais. ele desistiu, pensou. ainda meio indecisa, levantou com calma, arrastando a meia branca no chão, e sentou-se perto do telefone. as mãos esfregavam a cabeça, o cabelo e os olhos ao mesmo tempo, a indecisão tomava conta. - devo atender? - falou alto com o gato que acompanhou seus passos e se esfregava em suas pernas. - e se ele não ligar mais? vou ligar de volta. - pegou o fone com rapidez, digitou os quatro primeiros números e voltou a desligar. - ele não merece. -

mal conseguiu dormir, a noite foi longa, a cama parecia ter pregos, se controlou ao máximo para não procurar comunicação e no fim, dormiu.
quando acordou, não o achou na cama. procurou no celular alguma mensagem. percebeu que havia largado o computador ligado, ele sempre desligava. o chá estava cheio de formigas na pia, nenhum pedido de desculpas em lugar algum. saiu, olhou o correio, coisa de adolescente desesperada e com medo. nada. - afinal, porque tanto medo? ele sempre fez isso, ele volta.... ele volta. - repetiu baixinho quase sem perceber, como uma prece. não estava mais aguentando. chorou. enfiou a cara no sofá, implorou a todos os deuses que nunca acreditou pra não deixar que ele ficasse longe, ela sentia saudade, ela sentia falta da rotina e até mesmo das brigas. pediu perdão sozinha e pro vento. somente o gato ouviu. se sentiu sozinha, nada tinha uma razão ou algum motivo concreto pra existir. a casa era mais vazia do que nunca, ele enchia tudo com suas palhaçadas que irritavam as vezes. mas ele estava alí e as vezes ela não dava valor. ele mesmo dizia: "quando eu morrer, você vai desejar com todas as forças ter as minhas lambidas e não vai ter". e nem por isso ela deixava ele lamber o seu rosto, achava nojento. agora chorava, e implorava pra ter uma lambida. só uma. - só uma. -
o telefone voltou a tocar e dessa vez ela correu muito pra atender:
- Alô?
- Marina?
- Ah, é você.
- Porque está chorando?
- Você sabe.
- Você está assim a meses, isso tem que passar. Posso ir aí?
- Não.
- Não fale assim, só estou tentando ajudar.
- Eu sei. Me desculpa.
- Posso?
- Tente entender, eu não quero agora, eu preciso ficar sozinha.
- Isso não vai te ajudar em nada.
- Talvez não, mas eu preciso.
- Vou tentar te entender. Só por favor, tenta parar de se iludir.
- EU NÃO ME ILUDO.
- Não se exalte.
- Então me deixa.
- Ele não vai voltar, você tem que parar com isso, só vai te fazer mal.
- PÁRA!
- Marina, você está se torturando demais.
- Se é tortura ou não, é a MINHA TORTURA. Você não pode me pedir isso. VOCÊ NÃO SABE O QUE É. Você não imagina a dor, você sequer sabe o que é esse vazio. PÁRA! Me deixa. Me deixa, deixa a minha dor e a minha tortura, me deixa morrer aos poucos.
- Eu não vou insistir mais. Você quem sabe. A minha opinião é clara, a opinião de todo mundo é clara, só você que não quer enxergar. Talvez enxergar a realidade seria menos dolorosa do que se iludir como se ele estivesse vivo.
- Ele está vivo, não fala assim.
- Eu vou desligar, se quiser, saberá onde me encontrar.
- Ele está vivo.
- Você sabe que não está. Estou indo.
- Está, você não conhece ele, ele sempre aparece, ele vai aparecer dessa vez, você vai ver.
- Não vou mais ouvir isso, você precisa parar com isso. Está magoando todo mundo desse jeito.

ela desligou.

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Não fala nada.