Janine se despediu com o coração
na mão, não queria de forma alguma que Isabelle fosse embora naquela chuva.
Implorou várias vezes pra que não fosse, mas não podia, ela tinha que ir antes
que soubessem que estava lá. A despedida era sempre apertada, sempre dolorosa
com chuva ou sem chuva, pois sabiam que depois dessa, muito tempo se passaria
até que pudessem se ver de novamente. A distância atrapalhava e muito todo o
amor que sentiam, mas permaneciam firmes e fortes até o próximo reencontro. Mas
esse pareceu diferente, tinha um ar de despedida pelo menos para Janine:
- Você vai me deixar, não vai?
- Deixa de besteira, Janine. Você
sabe que nunca abandonaria você.
Enquanto Isabelle partia, Janine
correu para observá-la da janela de madeira velha e corroída, olhava pra a
menina que corria naquela tempestade com as mãos na cabeça numa
pseudo-tentativa de se proteger de algo que não podia. Cada segundo que se
passava ela corria pra mais longe, até desaparecer. As lágrimas de Janine não
se controlaram e caíram, pela primeira vez estava triste após os momentos que
passaram juntas, normalmente ela sorria e cantarolava pela casa arrumando-a
para que ninguém percebesse que Isabelle estivera lá. Mas hoje, ela queria
apenas deitar e chorar. Seu coração sabia que ela jamais voltaria, sua intuição
alertava que esta fora a última vez e não estava errada. Isabelle nunca mais
apareceu, as cartas que chegavam com freqüência já não apareciam mais. As
ligações com hora marcada eram a esperanças que alimentavam Janine todos os
dias às cinco da tarde, ou mesmo toda vez que ouvia o telefone tocar. Nunca
aconteceram. Foi então que Janine decidiu mandar uma carta, mesmo sabendo que
poderia chegar às mãos erradas, que poderia estragar a vida de Isabelle:
“Isabelle,
Não foi o bastante? E toda a
aventura que lhe proporcionei? Todo o amor proibido que vivemos não foi o
suficiente para sua felicidade? Você prometeu, disse que jamais me abandonaria.
Você sabia que a minha vida sem você não era vida. Então o que te levou a ir
embora assim? Você não entende, não é mesmo? Você não sabe o que é viver longe
do mundo, longe de tudo o que posso chamar de esperança. Você não sabe o quanto
me dói passar os dias esperando que o telefone toque e seja você pra me dizer
que vai voltar. Já sei! Uma mulher não poderia satisfazer todos os desejos de
Isabelle Moura.
Não quero que você se comova com
esta carta e volte para me consolar. Quero apenas entender o porquê de toda a
sua desistência. Não acredito mais no seu amor, não acredito que você tenha me
amado um segundo sequer. Você mentiu para mim, iludiu a única pessoa que
poderia estar do seu lado e não te machucar. Eu não posso entender que tenha
sido apenas uma aventura na sua vida. Parecia real. Mas já entendi que me
enganei. Você é a decepção da minha vida.
Adeus.
Janine”
Numa tarde cinzenta, assim como
aquela em que Isabelle partiu pela última vez, chamaram Janine mil vezes e não
tiveram resposta alguma. Não era normal, já que Janine mal saía de casa e
recebia todos que batiam a sua porta. Então arrombaram. A cena que presenciaram
era a mais horrível que poderiam ver. Naquela cidade pacata, onde tudo era
velho e cinzento, uma cena como essa não era comum, todos viviam uma
harmonia-cinzenta assim como tudo naquela cidade. Mas não isso.
Janine estava estirada ao chão, a
mancha de sangue cobria todo o tapete marrom da sala, um pedaço de papel do
lado esquerdo se misturava com a cor vermelha e do outro uma faca enferrujada
também suja da cor. No papel dizia:
“Janine,
Por muito tempo tentei entender
os sumiços de Isabelle. Por dias e mais dias quis entender porque ela se
afastava de mim como se não me amasse mais e passava tanto tempo fora. Quando
recebi sua carta, pude compreender tudo o que Isabelle passou e não queria me
contar. Eu sei que essa não é a melhor forma de lhe dar esta notícia, mas agora
posso entender porque Belle quis me deixar. Ela está morta, Janine. Em um dia
voltando de uma visita que fez a você, ela brigou comigo e me disse que não me
amava mais, que havia encontrado outro que a faria feliz. Arrumou as suas
malas, e me parecia decidida a me abandonar. Belle saiu correndo pelas ruas
chorando muito e dizendo que nunca mais voltaria. Um carro que vinha em sua
direção não parou e eu só consigo me lembrar dos olhos vermelhos de tanto
chorar estirados no asfalto molhado e frio. Não tenho raiva de você e muito
menos de Isabelle. Espero que agora você possa entender o quanto ela te amava e
desejava estar contigo.
Um abraço.
Edgar”
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