Praia - Baú

não havia o vento ou chuva, tudo era seco. não havia areia branca, apenas aquela areia amarela suja e fervendo. ele fechou os olhos, ouviu o barulho que o mar fazia e sentiu o sol, não como fazia todas as manhãs de caminhada na praia. nesta manhã estava tudo diferente, sua alma parecia saltar de seu corpo, seus olhos pesavam, seus pés seguiam por si próprios. nessa manhã não existia mais a razão, não existia mais o sentido de nada, nem do mar, nem do barulho das ondas, muito menos do calor do sol. caminhou por mais algum tempo de olhos fechados, quase implorando um destino diferente, mas ninguém o ouvia, ninguém o entendia. perdeu as contas de quantos juramentos já havia feito desde que chegara e quantas perguntas sem respostas. se jogou de joelho ali, nem ele sabia onde e chorou, como criança, como se chorasse a morte de alguém, e era. não teve chance de abrir os olhos, apenas caiu, sentiu sua força o deixar segundo a segundo, suas lágrimas catavam a areia do chão e traziam para o seu rosto. sua força foi se perdendo, sabe-se lá onde, talvez estivessem ficando na areia quente, assim como suas lembranças, assim como seu coração. não era a morte de alguém importante que o tirava as esperanças e o ar, não era a morte de um amor que lhe doía, ou de um pai, era a sua própria morte.

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